Aconselhamento para pais aumenta horas de sono de crianças aos seis meses
Iná da Silva dos Santos
Quem tem bebê ou crianças com menos de dois anos em casa conhece bem o drama na hora de dormir. Para fazer os pequenos pegarem no sono, cada um adota uma estratégia diferente. Alguns, silêncio total. Outros preferem seguir rituais para relaxá-los como dar banho, oferecer alimentos que acalmem ou ler um livro. Mesmo assim, às vezes tudo isso falha, o choro começa e a única solução parece ceder à vontade de criança e trazê-la para o meio da cama dos pais.
O problema é que sono em quantidades insuficientes, irregular, sem rotina ou de baixa qualidade pode trazer prejuízos ao desenvolvimento infantil. As pesquisas mostram que ele é fundamental para garantir crescimento e bom desempenho motor e cognitivo nos primeiros 1000 dias, principalmente.
Para aconselhar os pais nesta difícil tarefa de toda noite e avaliar os impactos destas recomendações, a médica e pesquisadora Iná da Silva dos Santos, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e especialista em avaliação de programas e serviços de saúde materno-infantil, propôs um projeto inovador no Brasil. “Este ainda é um tema muito pouco explorado e raramente presente nas consultas com o pediatra, mas é preciso instruir os pais o mais cedo possível”, diz Iná. “O tema é tão novo que o projeto permitiu a criação de uma linha de pesquisa no programa de pós-graduação sobre sono”.
Iná e sua equipe criaram um programa voltado para os pais para melhorar a qualidade do sono por meio de visitas de técnicas treinadas em suas casas. Para avaliar os impactos da iniciativa no sono da criança, foi preciso criar o chamado ensaio randomizado controlado, um dos métodos científicos mais confiáveis. Foram recrutadas 586 mães de bebês de três meses. Desse total, 298 foram sorteadas aleatoriamente para receber as visitas e outras 288 fizeram parte do grupo controle e não tiveram a orientação da equipe.
Durante as visitas, as técnicas davam informações às mães dos bebês do grupo intervenção sobre características do sono no primeiro ano de vida e as condições ideais para fazer a criança “pegar no sono”. Aqui se incluem todas as correções do ambiente para gerar um sono reparador: baixo ruído, sem som de TVs e pouca luz. Além disso, ensinavam as mulheres a estabelecer uma rotina a caminho da cama: alimentar, dar banho e deitar para evitar estimular ou agitar a criança antes do horário de dormir. Entre os ensinamentos, estavam práticas como colocar a criança para dormir enquanto ainda estivesse sonolenta e como lidar com despertares noturnos.
Aos 3 e seis meses, as mães dos dois grupos preencheram um diário sobre o sono da criança. Os filhos foram avaliados aos três, seis, 12 e 24 meses de vida por um questionário próprio para isso. Ao fim das orientações em casa, todas as mães, de ambos os grupos, foram entrevistadas quando seus filhos completaram seis, 12 e 24 meses.
As avaliações mostraram que a intervenção teve efeito aos seis meses, com maior duração do sono noturno, e aos dois anos, idade em que as crianças despertaram menos e dormiram melhor. Embora aos 6 meses, as crianças do grupo intervenção tenham dormido 19 minutos a mais do que as do controle, segundo o diário das mães, essa diferença não foi estatisticamente significativa, segundo os pesquisadores.
Com um ano, as crianças cujos pais receberam aconselhamento apresentaram melhor desempenho no teste de desenvolvimento psicomotor do que as do grupo controle. Não houve diferenças em relação ao crescimento nos dois grupos entre as crianças de um e dois anos de idade. “Nossos resultados mostram que o sono precisa entrar na pauta e no radar das preocupações com a primeira infância”, afirma Iná.