Aconselhamento para hábitos saudáveis de sono durante a infância: ensaio controlado randomizado

A pesquisa desenvolveu um programa de aconselhamento de sono para os pais de crianças dos três meses aos dois anos de idade e o avaliou para verificar seus possíveis efeitos na melhoria do sono e no crescimento e desenvolvimento motor e psíquico das crianças que receberam a intervenção.

Foram recrutadas 586 mães de bebê a partir dos três meses. Desse total, 298 foram sorteadas aleatoriamente para receber as visitas e outras 288 fizeram parte do grupo controle, que não tiveram a orientação da equipe. Durante as visitas, as técnicas orientavam os pais sobre as melhores práticas para garantir um sono de qualidade aos bebês. Aos três, seis, 12 e 24 meses de vida, o sono das crianças que participaram do aconselhamento foi avaliado por um questionário próprio para isso chamado Breef Infant Sleep Questionnaire (BISQ) e actigrafia, método para monitorar atividades e descanso das pessoas. As mães também preenchiam um diário de atividades da criança aos três e seis meses, que incluía horário em que ela dormia e acordava durante as 24 horas do dia. Com um e dois anos, elas também tinham o crescimento medido e o desenvolvimento avaliado por meio de dois instrumentos próprios para isso. Ao fim das orientações em casa, todas as mães, de ambos os grupos, foram entrevistadas quando seus filhos completaram seis, 12 e 24 meses.

O estudo mostrou que os maiores efeitos do programa de aconselhamento foram observados em três momentos da vida da criança:

1. Aos seis meses, com maior duração do sono noturno;
2. Com um ano, elas apresentaram melhor desempenho no teste de desenvolvimento psicomotor do que as do grupo controle;
3. O tempo em que as crianças estiveram acordadas durante a noite sem sinalizar para chamar a atenção dos pais (ou seja, voltaram a dormir sem necessitar a presença de um dos pais) foi maior do que no grupo controle (31 contra 14 minutos, respectivamente), mas a diferença não foi estatisticamente significativa;
4. De maneira geral, as diferenças no sono aos 6 e 24 meses ocorreram, mas não foram estatisticamente significativas.

É a primeira vez que um programa de aconselhamento do sono para crianças de até dois anos é implementado e avaliado no Brasil e em países de renda média. A maioria foi realizada em países de renda alta. Isso é importante porque, culturalmente, as crianças brasileiras têm hábitos diferentes de sono do que as inglesas, por exemplo. Nossas crianças dormem e acordam em média duas horas mais tarde do que as britânicas, por exemplo. E aqui a prática de dormir na cama dos pais é muito frequente, o que quase não ocorre na Europa.O impacto das noites bem dormidas no desenvolvimento infantil ainda é um tema novo na área de primeira infância.

Os impactos nocivos da má qualidade do sono para o desenvolvimento de crianças até dois anos.

A intervenção pode ser orientada por outros profissionais de saúde, é barata porque pode ser aplicada pelas mães e em casa, sem exigir grandes custos.

Com as devidas adaptações culturais, é possível ampliar o estudo para outros países. O estudo também pode lançar mais luz sobre a importância de se adotar rotinas regulares de sono para favorecer o desenvolvimento infantil no âmbito da saúde global.

Transformar o programa num folder para ser disseminado para os pais e oferecido em outros locais. Paralelo ao projeto, a mesma universidade coletou dados sobre sono de uma coorte de 4400 crianças de Pelotas, o que permitirá traçar um panorama mais amplo e preciso sobre o tema no Brasil.