O cuidado pré-natal de qualidade é fundamental para diminuir os partos prematuros
João Guilherme Bezerra Alves
Por ser indispensável em diversos processos do organismo, o magnésio está entre os quatro sais minerais mais importantes para a saúde humana. Durante a gestação, sua deficiência pode causar complicações que levam ao parto prematuro, como pré-eclâmpsia, aumento súbito da pressão arterial, e outros problemas vasculares na placenta, como descolamento. Avaliar se a complementação da dieta de gestantes com magnésio reduziria esses riscos foi o objetivo do estudo do pediatra e pesquisador João Guilherme Bezerra Alves, Diretor de Ensino e Coordenador do programa de Pós-Graduação do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP).
A pesquisa verificou se a suplementação oral materna com comprimidos de citrato de magnésio, administrados antes da vigésima semana de gestação até o fim da gravidez, poderia diminuir a ocorrência de partos prematuros espontâneos ou induzidos por razões médicas, como a pressão alta e outras complicações. Barato e de fácil fabricação, os comprimidos foram produzidos na própria farmácia do IMIP. Caso se mostrassem efetivos, poderiam ser uma opção de baixo custo para reduzir a prematuridade, principalmente em países com poucos recursos.
A equipe recrutou 911 gestantes no pré-natal de três hospitais de Pernambuco. Desse total, 449 receberam os comprimidos de citrato de magnésio e 462, um placebo. Elas foram divididas aleatoriamente entre os dois grupos e apenas um membro da equipe sabia o que estava sendo administrado a cada uma delas, no chamado ensaio randomizado duplo cego, um dos métodos considerados mais confiáveis na ciência.
Todas as gestantes começaram a ingerir as pílulas (com ou sem magnésio) por volta da vigésima semana de gestação e foram acompanhadas até o final da gravidez. Elas tinham características sociais, demográficas, de comportamento, de renda – entre 1.6 e 2 salários mínimos – e biológicas semelhantes. Devido a mudanças no atendimento pré-natal, à epidemia do vírus da Zika (em 2015) e a reações adversas relatadas nos dois grupos (com ou sem placebo), a pesquisa deixou de seguir 82 mulheres. “Ainda assim, a amostra teve força estatística suficiente”, garante Alves. O estudo não encontrou diferenças na incidência de nascimentos prematuros, bebês que nasceram mortos (natimortos) ou com pequeno porte para a idade gestacional entre as gestantes que tomaram o citrato de magnésio ou o placebo. O mineral também não teve efeito na ocorrência de pré-eclâmpsia e no descolamento prematuro da placenta, mesmo depois de ajustes para fatores de risco socioeconômicos, demográficos e ambientais. “Foi importante demonstrar cientificamente que o magnésio, de maneira isolada, não tem efeito protetor ou preventivo para parto prematuro”, afirma Alves. A mortalidade de bebês recém-nascidos foi bem menor entre as mães que tomaram as pílulas de magnésio. “Existe uma hipótese de que o magnésio pode conferir uma neuroproteção ao recém-nascido”, diz o pesquisador. “No entanto, será preciso investigar mais a fundo esse achado para compreendê-lo e comprovar a relação de causa-efeito”.
Logo quando iniciaram o estudo, 31% das gestantes apresentaram deficiência de magnésio e essa taxa foi se reduzindo à medida que gravidez avançava. A frequência de parto prematuro entre as 911 gestantes participantes foi de 7,0%, bem menor que a média brasileira de 11.5%, segundo o último levantamento da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) de 2016. Segundo os pesquisadores, uma das explicações pode ser o maior cuidado e acolhimento durante o pré-natal disponibilizado às grávidas que toparam aderir ao estudo. As gestantes da pesquisa tiveram atendimento garantido e prioritário, além de contato permanente com a equipe. “Isso demonstra a importância de um serviço de qualidade para a redução dos nascimentos prematuros”, diz o pediatra.