O pré-natal em grupo, de baixo custo e acessível, que é capaz de reduzir partos prematuros
José Maria Lopes
A assistência pré-natal adequada é essencial para diminuir os riscos de parto prematuro e de mortalidade materna. Apesar desta cobertura ser considerada praticamente universal no Brasil, nem sempre o atendimento é de qualidade. Segundo Pesquisa Nascer no Brasil, com 23894 mulheres, 60% das gestantes ainda iniciam o pré-natal tardiamente, depois das 12 semanas de gestação. Além disso, um quarto delas passa por menos de seis consultas, número mínimo recomendado pelo Ministério da Saúde.
Para aumentar o número de mulheres com acesso ao pré-natal de qualidade, os pesquisadores José Maria Lopes e Maria Elisabeth Moreira, ambos do Instituto Fernandes Figueira (IFF), decidiram testar pela primeira vez no Brasil uma solução inovadora: o pré-natal em grupo. Adaptada dos Estados Unidos e Europa, a intervenção incluiu 86 gestantes brasileiras – outras 248 receberam o pré-natal individualizado tradicional, como controle. “Nosso objetivo foi avaliar os efeitos da técnica na incidência de prematuridade e nos aspectos psicológicos comportamentais e biológicos das gestantes”, afirma Lopes.
Divididas em grupos de dez, as grávidas que participaram do estudo se reuniram uma vez por mês durante oito encontros em clínicas da família do Rio de Janeiro. Logo no início, elas recebiam um manual ilustrado em linguagem acessível e termos de fácil compreensão com instruções e sugestões de atividades, também destinado a seus companheiros. “A ideia é que as próprias mulheres conduzissem e liderassem as sessões com o apoio dos profissionais de saúde”, explica Moreira. Cada encontro tinha um tema específico e era regado a um lanche saudável com chá e frutas.
O guia indicava um roteiro a ser seguido: elas mesmas se pesavam, mediam a pressão arterial e faziam o controle de peso acompanhadas por uma enfermeira obstetra e um clínico geral. Se tivessem alguma dúvida ou queixa, eram encaminhadas à obstetra numa estrutura montada no mesmo local. Também realizavam o ultrassom e a coleta de exame de urina. “Ao final dos encontros, percebemos que elas haviam criado um laço forte entre elas, trocavam informações, experiências, se ajudavam e já traziam bolos e outros comes para o grupo”.
Além de aplicar três questionários com centenas de perguntas sobre as condições de saúde das mulheres durante a gestação e após o parto – entre elas questões sobre depressão e conhecimentos sobre gravidez – , o estudo utilizou dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) para obter informações sobre o tipo de parto e a idade gestacional dos bebês. A taxa de prematuridade entre os bebês cujas mães receberam a intervenção foi de 8% contra 11% das que tiveram o pré-natal convencional – a mesma da cidade do Rio de Janeiro. “Embora não tenhamos atingido a amostra ideal originalmente planejada de 800 mulheres, podemos dizer que a intervenção gerou uma tendência de redução da prematuridade”, afirma Lopes. Segundo os pesquisadores, entre os principais fatores que impediram o recrutamento estão a violência, que impedia o funcionamento das clínicas da família e a locomoção das grávidas até lá, e também a descontinuidade de políticas municipais de saúde. “Atribuímos as taxas reduzidas de prematuridade a um maior autocuidado propiciado pelo grupo e redução do estresse”, dizem os pesquisadores responsáveis. “Os riscos de parto prematuro, como pressão alta, também foram mais facilmente identificados e controlados”.
O pré-natal em grupo também apresenta vantagens para a gestão em saúde: com os mesmos profissionais, é possível atender um número bem maior de gestantes e com qualidade, ampliando o acesso. Para implementar o programa numa clínica da família ou Unidade Básica de Saúde (UBS), é preciso treinar os profissionais no método – 20 foram formados para o projeto – e garantir uma estrutura mínima para a realização dos encontros. São necessários uma equipe composta por enfermeira e uma médica obstetra ou obstetriz, além de balanças, equipamentos de medição de pressão e lanche.
Embora não tenham realizado análises de custo-efetividade, os pesquisadores estimam que com 8000 reais mensais é possível manter a estrutura funcionando em quatro encontros de duas horas por mês ou um por semana. “O projeto atraiu a atenção do secretário municipal de saúde do Rio e de outros gestores”, explica Lopes, que realizou seis reuniões com eles. “Nosso objetivo agora é expandi-lo para outras cidades”.