Sentidos do Nascer: efeitos de uma exposição interativa na transformação da percepção sobre o parto e nascimento

O estudo desenvolveu e implementou pela primeira vez no Brasil uma exposição artística, a Sentidos do Nascer, como intervenção de educação em saúde para despertar entre os participantes uma mudança da percepção sobre o parto e o nascimento, incentivando a valorização do parto normal para a redução de cesáreas desnecessárias e da prematuridade. Os pesquisadores mediram o efeito da exibição na mudança de percepções e comportamentos dos participantes – incluindo grávidas – para verificar se é possível transformá-la em ferramenta de saúde pública.

Entre 2015 e 2019, a equipe do projeto montou 14 exibições – entre fixas e itinerantes – nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Niterói, Ceilândia e Brasília. A análise dos efeitos da intervenção nos participantes foi realizada de duas formas: via questionário, que as pessoas respondiam por meio de um totem instalado ao final da exposição, perguntas aplicadas a 20% dos visitantes antes e 20% depois da exposição e questionário aplicado a todas as 1297 gestantes que foram expostas ao conteúdo da exibição. Foi também realizado o acompanhamento de 650 (43%) dessas mulheres por meio de entrevistas telefônicas após o parto. O objetivo foi avaliar se ele havia sido normal ou cesárea, a utilização de práticas baseadas em evidências durante o trabalho de parto e também os índices de prematuridade e de aleitamento materno.

A porcentagem dos que relataram ter uma percepção do parto normal como “excelente” aumentou de 42,9%, antes da intervenção, para 82,7% depois dela. Cerca de 75% das gestantes mudaram de opinião sobre o parto normal: a percepção positiva e a preferência por ele passaram de 46% para 84% e de 79,5% para 83,4%, respectivamente. O projeto também realizou uma pesquisa de acompanhamento com 650 mulheres grávidas que participaram da exposição e verificou que 42% tiveram uma cesariana e 58% um parto normal – índices melhores do que os da população brasileira (55% da cesariana e 45% do parto normal), assim como o índice de prematuridade que foi de 7%, bem abaixo da média nacional.

O projeto pretende verificar, pela primeira vez, se é possível transformar a exposição sensorial numa ferramenta de saúde pública para incentivar o parto normal e, com isso, diminuir as cesáreas desnecessárias e seus efeitos decorrentes dela, como a prematuridade.

Excesso de cesáreas desnecessárias e prematuridade, associados a índices elevados de mortalidade materna e neonatal. O Brasil está entre os países que mais recorrem a essas intervenções cirúrgicas. Em 2018, elas responderam por 55% dos nascimentos no país. Segundo a OMS, ela é necessária apenas entre 10% a 15% dos casos. O índice de prematuridade de 11,5% no Brasil é elevado, acima do recomendado pela OMS, de 6 a 7%.

Embora não tenham realizado análises de custo-efetividade, os pesquisadores estimam que a instalação da exposição custe entre 80 mil reais, para montar uma estrutura fixa, e 130 mil reais para a itinerante, que se move facilmente a diversas cidades e exige de oito a seis pessoas por turno.

Os resultados demonstram que a exposição foi efetiva para mudar crenças sobre o parto e pode ser usada como ferramenta para sensibilizar mais pessoas em outras cidades do país.

Com as devidas adaptações de linguagem e de conteúdo da exposição, é possível expandir o programa para outros países como ação de promoção de equidade de gênero, redução da mortalidade materna e neonatal, metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Os pesquisadores também pensam em levar a experiência da exposição a mais participantes virtualmente, por meio de novas tecnologias como as de realidade virtual para dar escala à intervenção e atingir mais pessoas.