Transtornos neuro-psiquiátricos maternos no ciclo gravídico-puerperal: detecção e intervenção precoce e suas consequências na tríade familiar
Ricardo Pinheiro
Nome do projeto
O que é
O estudo buscava identificar a prevalência e a incidência de depressão durante e após a gestação, os resultados de uma intervenção baseada num tipo de terapia específico, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), sobre a saúde mental das gestantes e o desenvolvimento infantil de seus filhos.
Como foi o experimento
A equipe recrutou 980 mulheres a partir do final do primeiro trimestre de gravidez até a 24ª semana e as acompanhou até o parto e nascimento de seus bebês até que eles completassem 18 meses. As gestantes recrutadas foram divididas em grupos para avaliar os efeitos das sessões de TCC. Do total da amostra, 342 saudáveis fizeram parte do grupo controle, não sendo submetidas à intervenção terapêutica e foram apenas acompanhadas. As 150 grávidas deprimidas e as 407 em risco frequentaram até oito sessões de terapia com psicólogas, uma por semana – um representativo número delas compareceu entre dois a seis encontros. As sessões tinham por objetivo capacitar as mulheres a reconhecer sintomas de tristeza, ansiedade e pensamentos disfuncionais referentes à gestação. As participantes foram avaliadas 60 dias depois do início das sessões, 90 dias após o parto e após 18 meses do nascimento. A equipe analisou dois fatores: se o programa tinha sido eficaz para prevenir a depressão entre as consideradas de risco para a doença, tanto durante a gestação, no pós-parto e 18 meses, e se havia conseguido tratar as depressivas ou diminuir os sintomas nos três momentos. Os bebês das mulheres do grupo intervenção também foram submetidos a testes de desenvolvimento infantil aos três e 18 meses de vida para avaliar o impacto da intervenção também sobre seus filhos. Além disso, crianças filhas de mães deprimidas aos 18 meses receberam uma intervenção de estímulo ao desenvolvimento neurocognitivo que está sendo avaliada após 90 dias.
Principais resultados
Do total recrutado no estudo, 41,8% das gestantes mostravam estar em risco para depressão e 15,4% foram efetivamente diagnosticadas com o problema. Tanto risco quanto depressão foram mais frequentes em mulheres das classes sociais menos favorecidas e de baixa escolaridade. Entre as gestantes dos estratos C, D, E, que compunham 70% da amostra, o risco foi de 52,1% e a doença foi confirmada em 16,2% delas. Nas classes A e B, ele foi de 34%. A intervenção mostrou um duplo efeito tanto para tratar as mulheres quanto para promover maior desenvolvimento infantil de seus filhos. Ela não só reduziu os casos de depressão como também impediu que as gestantes de risco caminhassem para a doença. Quatro em cada cinco deprimidas se tornaram assintomáticas e o benefício se prolongou para o pós-parto e aos 18 meses após o nascimento. As grávidas depressivas que não aceitaram participar das sessões tiveram em torno de 11 vezes mais risco de depressão pós-parto quando comparadas às mulheres não deprimidas. A prevalência do problema após o nascimento do bebê foi de 7,2%, consideravelmente menor do que a média de 12 a 20% encontrada em outros estudos. Aos três meses de idade, os filhos das mães deprimidas e que foram tratadas tiveram um melhor desempenho na avaliação motora que as crianças de gestantes não tratadas.
Por que é inovador
É a primeira vez que uma intervenção baseada na terapia cognitivo comportamental breve é testada no período gestacional em larga escala no meio médico, tendo o objetivo de minimizar os impactos da depressão na gestação, no pós-parto, nos dois primeiros anos pós-parto e no desenvolvimento dos bebês.
Problema que soluciona
As altas prevalências da depressão na gestação, que afetam mais de 15% das gestantes em média e do pós-parto, cujas médias nacionais de prevalência variam de 12 a 20%. E as consequências deletérias desta doença nas mulheres e nos seus filhos.
Implicações para o sistema de saúde brasileiro
Por ser de baixa complexidade de aplicação, replicação e baixo custo proporcional, a intervenção breve com TCC pode ser testada, replicada e ampliada a outros serviços de saúdedo país.
Implicações para a saúde global
Com as devidas adaptações culturais, ela pode ser expandida a outros países com elevadas taxas de depressão na gestação e no pós-parto.
Próximos passos
A equipe agora pretende concluir o segundo estudo, resultado de um financiamento adicional, que prevê a avaliação dos impactos do programa no segundo ano de vida das mesmas crianças que já foram acompanhadas. As análises de biomarcadores da depressão também estão em via de conclusão.
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