Elaboração de um concentrado com liofilizado de leite humano para alimentação de recém-nascido pré-termo de muito baixo peso

José Simon Camelo Junior

Universidade de São Paulo – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Nome do projeto

Elaboração de um concentrado com liofilizado de leite humano para alimentação de recém-nascido pré-termo de muito baixo peso

O que é

Leite humano em pó (liofilizado) de baixo custo e fácil de produzir para suplementar a alimentação de bebês de muito baixo peso, com menos de 1,5 quilo batizado de Lioneo. O objetivo é que ele substitua aditivos comerciais para impedir o desenvolvimento de enterocolite necrosante e ainda promover um melhor desenvolvimento da criança a longo prazo.

Como foi o experimento

A pesquisa tinha três objetivos principais: desenvolver o método de produção do leite em pó humano a partir dos bancos de leite, entender a composição nutricional do leite materno acrescido do liofilizado e avaliar a segurança do concentrado quanto a contaminações. Com um único liofilizador, foi possível produzir o pó.

Principais resultados

Ao adicioná-lo ao leite humano pasteurizado, a concentração que se provou mais adequada foi a de 10%: 7 gramas de pó para cada 75 mililitros de leite humano. Foram dosados micro e macronutrientes e mediu-se um aumento de 60% no concentrado final. Culturas do produto final foram avaliadas com 3 e 6 meses de armazenamento no freezer. Não houve crescimento de bactérias em nenhuma amostra, atestando a segurança do produto.

Por que é inovador

É a primeira vez que se estabelece um sistema de produção do leite em pó humano acessível, de baixo custo e de domínio público que pode ser implementado em bancos de leite de qualquer país do mundo.

Problema que soluciona

Atualmente, o Ministério da Saúde gasta 800 milhões de reais por ano com internações em UTIs neonatais do Brasil e outras centenas de milhões com a compra de fórmulas comerciais que, não raro, agravam o quadro de saúde dos bebês. Se a fase 2 demonstrar a segurança e eficácia esperada, espera-se reduzir complicações e, consequentemente, o tempo de hospitalização de prematuros, com economias para o sistema público de saúde. Para produzir o leite materno em pó, é necessário apenas um liofilizador, que custa por volta de 50 000 reais, e um analisador em bancos de leite de referência. Isso seria suficiente para atender a quase toda demanda nacional.

Implicações para o sistema de saúde brasileiro

Se o produto se mostrar eficaz para suplementar a alimentação de prematuros de baixo peso e, ao mesmo tempo, diminuir as chances de inflamações intestinais, o pesquisador acredita que já há evidência para implementá-lo em larga escala na Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano.

Implicações para a saúde global

O produto pode ser produzido em qualquer banco de leite do mundo. No entanto, nem todos os países têm a cultura da doação, como no Brasil, e isso pode ser um entrave. Simon também acredita que o Lioneo pode ser útil para combater a desnutrição em bebês que vivem em bolsões de pobreza como na África e Sudeste Asiático, por exemplo, mas são necessários mais estudos.

Próximos passos

O pesquisador recebeu financiamento adicional do Ministério da Saúde e CNPq em 2017 para testar a aceitação do produto e impactos sobre a saúde de 200 bebês. Ele vai comparar os efeitos do seu produto com os das fórmulas comerciais. A equipe já concluiu a fase 1, em maio de 2020, e espera completar a fase 2 em 2 anos e meio.

Matéria sobre o projeto

O leite humano em pó que aumenta em 60% os nutrientes do leite materno para bebês prematuros

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