Progesterona e Pessário cervical para Prevenir Parto Prematuro ou Estudo P5
Rodolfo de Carvalho Pacagnella
Nome do projeto
O que é
O estudo avaliou a eficácia da combinação do pessário, anel de silicone, com progesterona para conter o encurtamento do colo do útero e evitar partos prematuros em comparação com a progesterona utilizada de maneira isolada.
Como foi o experimento
A equipe coletou dados de mais de 9000 gestantes entre a 18ª e 23ª semana em 17 hospitais espalhados pelo Brasil e vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Elas eram submetidas gratuitamente a um ultrassom transvaginal para medir o colo do útero. As que não exibiam nenhuma alteração seguiam seu pré-natal regular. Se o encurtamento do colo do útero fosse detectado (com menos de 30 milímetros), a grávida recebia acompanhamento especial para evitar o trabalho de parto prematuro e era convidada a participar de um ensaio clínico randomizado. Todas recebiam 200 miligramas de progesterona e outras eram escolhidas aleatoriamente (randomizadas) para receber ou não um pessário cervical, um anel de silicone. Ambos eram inseridos na vagina e acompanhadas até o fim da gestação.
Principais resultados
Os dois tratamentos combinados reduziram as chances de parto antes das 34 semanas de gestação. A dupla pessário + progesterona foi benéfica para as mulheres grávidas pela primeira vez (nulíparas), com colo abaixo de 25 milímetros e gestando um único bebê. Entre estas gestantes, houve redução da prematuridade e também de efeitos adversos aos bebês. Na média, as crianças de mães que utilizaram o pessário nasceram uma semana depois (37 semanas) do que as que usaram apenas a progesterona (36 semanas). A frequência de bebês prematuros também se mostrou menor entre as que utilizaram o anel de silicone (29%) e apenas o medicamento (39%).
Por que é inovador
É a primeira vez que a combinação de progesterona e pessário como intervenção para o colo curto foi testada no Brasil como medida para evitar o parto prematuro. É o maior estudo com o dispositivo pessário no mundo. Ao avaliar 9000 mulheres, os pesquisadores conseguiram estabelecer a primeira curva brasileira de comprimento do colo do útero.
Problema que soluciona
Encurtamento do colo do útero, uma condição que pode desencadear partos prematuros espontâneos, responsáveis por 64.6% dos nascimentos antes das 37 semanas no Brasil.
Implicações para o sistema de saúde brasileiro
O pessário combinado à progesterona se mostrou eficaz para reduzir partos prematuros abaixo das 34 semanas, considerados severos e extremos. Eles são também os que mais representam risco aos bebês na vida fora do útero e os maiores custos ao sistema de saúde. O custo unitário do pessário gira em torno de R$500,00.
Para inseri-lo como intervenção durante o pré-natal, seria necessário implementar o ultrassom transvaginal nos serviços de saúde para medir o colo do útero. Atualmente poucos dispõem do aparelho.
Implicações para a saúde global
Localidades que já contam com o ultrassom transvaginal poderiam passar a medir o colo do útero e a prescrever o pessário combinado à progesterona no tratamento do colo curto antes das 34 semanas de gestação.
Próximos passos
A equipe pretende agora avaliar os tamanhos de colo nos quais o pessário é mais eficaz e quais grupos de pacientes podem se beneficiar mais dele.
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Estudos publicados
- Marquart KGF, Silva TV, Mol BW, Cecatti JG, Passini Jr R, Pereira CM, Guedes TB, Fanton TF, Pacagnella RC, P5 Working Group (2022). Cervical length distribution among Brazilian pregnant population and risk factors for short cervix: a multicenter cross-section study (2022). PLoS One 17(10):e0272128. https//doi.org/10.1371/journal.pone.0272128 - 10/2022
- Pacagnella RC, Silva TV, Cecatti JG, Passini Jr R, Fanton TF, Borovac-Pinheiro A, Pereira CM, Fernandes KG, França MS, Li Wentao, Mol BW, P5 Working Group. Pessary plus progesterone to prevent preterm birth in women with short cervixes: a randomized controlled trial (2022). Obstetrics & Gynecology 139 (1):41-51. https//doi.org/10.1097/AOG.0000000000004634 Comment in Souza RAS, Lima MSM (2022). Obstet Gynecol 139(5):937.https://doi.org/10.1097/AOG.0000000000004784 - 05/2022
- Silva TV, Bento SF, Katz L, Pacagnella RC. Preterm birth risk, me? Women risk perception about premature delivery – a qualitative analysis. BMC Pregnancy Childbirth 21(1):633. https//doi.org/10.1186/s12884-021-04068-x - 09/2021
- Bortoletto TG, Silva TV, Borovac-Pinheiro A, Pereira CM, Silva AD, França ms, Hatanaka AR, Argenton JP, Passini Jr R, Mol BW, Cecatti JG, Pacagnella RC. Cervical length varies considering different populations and gestational outcomes: Results from a systematic review and meta-analysis (2021). PLoS One 16(2):e0245746. https//doi.org/10.1371/journal.pone.0245746 - 02/2020
- Pacagnella RC, Mol BW, Borovac-Pinheiro A, Passini Jr R, Nomura ML, Andrade KC, Ellovitch N, Fernandes KG, Bortoletto TG, Pereira CM, Miele MJ, França MS, Cecatti JG, P5 Working Group. A randomized controlled trial on the use of pessary plus progesterone to prevent preterm birth in women with short cervical length (P5 trial) (2019). BMC Pregnancy Childbirth 19(1):442. https://doi.org/10.1186/s12884-019-2513-2. - 11/2019